RESUMO HISTÓRICO

O Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, sede nacional dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, foi uma das principais casas religiosas portuguesas. Foi fundado em 1131 sob o patrocínio de D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, que fez de Coimbra a sua capital. 

Durante a primeira metade do século XVI o mosteiro seria reformado duas vezes. D. Manuel mandou destruir a igreja e claustro românicos, ordenando a sua reconstrução no sistema gótico-manuelino. Fez levantar novos túmulos para os dois primeiros reis portugueses na nova capela-mor. Poucos anos volvidos, D. João III mandou adicionar dois novos claustros (um dos quais com a fonte da Manga), novos dormitório, biblioteca e refeitório, fazendo de Santa Cruz o primeiro mosteiro renascentista português. Foi a partir do mosteiro reformado que se lançou a Rua de Santa Sofia para os colégios da recém-instalada universidade. Entre as adições posteriores contam-se a sacristia seiscentista e o santuário barroco. 

A extinção das ordens religiosas em 1834 levou à perda de parte significativa deste património arquitetónico. A reabilitação da Praça 8 de Maio, pelo arquiteto Fernando Távora em 1997, devolveu dignidade à igreja, classificada, desde 2003, como “Panteão Nacional”.

Cronologia

1131 (28 de junho): lançada primeira pedra do mosteiro pelos 12 fundadores entre os quais o arcediago D. Telo e o mestre escola D. João Peculiar.

1132 (24 de fevereiro): começa a vida de comunidade, 72 monges sob a regência do Prior D. Teotónio 

c.1150: sagração da capela-mor; o corpo central da igreja deveria estar adiantado, bem como a parte conventual.

1163: bula de Alexandre III reconhecendo a autonomia do mosteiro face à Sé de Coimbra.

1185 (6 de dezembro): morre D. Afonso Henriques

1229 (7 de janeiro): sagração da igreja na presença do legado papal D. João de Abbeville, bispo de Sabina.

Igreja românica teria 3 capelas laterais a cada lado da nave: S. Pedro, S. Vicente, Stº Antão do lado do evangelho; S. Miguel, Stº André e S. Tiago do lado da epístola.

Séc. XV (1441-1459): institui-se a Capela dos Mártires de Marrocos reformando-se as capelas laterais da nave, do lado da epístola (priorado de D. Gomes Eanes).

1502: D. Manuel passa pelo Mosteiro de Santa Cruz a caminho de Santiago de Compostela

1505: morre o Prior D. João de Noronha.

Papa Júlio II entrega o priorado de Santa Cruz, em comenda, ao sobrinho Galiotto della Rovere.

Iniciam-se as obras de demolição da igreja românica, ordenadas por D. Manuel.

1507: Júlio II desiste da comenda. Breve papal, pelo qual os reis de Portugal ficam autorizados a apresentar os priores-mores do mosteiro.

1507-16: Priorado de D. Pedro Gavião, Bispo da Guarda (primeiro de nomeação régia)

1507-13: Diogo de Boytac faz a nova capela-mor da igreja. 

O cadeiral é executado por Olivier de Gand.

Boytac faz também a nova sala do capítulo.

1513 (24 de janeiro): contrato com Diogo de Boytac para a reconstrução do corpo da igreja.

1517-21: Marcos Pires constrói o Claustro do Silêncio, e faz as capelas de S. Miguel e de Jesus.

Reformou o refeitório original (da ala nascente) e fez a fonte de Paio Guterres

Termina o coroamento da fachada da igreja (1518)

1518-22: fazem-se os túmulos dos Reis (João e Diogo de Castilho, jacentes de Nicolau Chanterene) inicialmente colocados na nave.

1521: púlpito da igreja, por Nicolau Chanterene 

1521 (13 de dezembro): morre D. Manuel. Sucede-lhe D. João III; 

1522: retábulos do claustro do Silêncio, por Nicolau Chanterene.

1522-25: faz-se o portal da fachada da igreja (projeto de João de Castilho, execução de Diogo de Castilho e Nicolau Chanterene)

1522-30: coloca-se o retábulo da capela-mor (pinturas de Cristóvão de Figueiredo)

1527: D. João III passa 6 meses em Coimbra, a partir de 10 de julho. 

1527 (13 de outubro): Frei Brás de Braga, frade jerónimo, é nomeado Reformador dos crúzios.

1528 (5 de março): contrato com Diogo de Castilho para a construção do novo dormitório e refeitório.

1529: extinção do mosteiro feminino de S. João das Donas 

1530: livraria e portaria do mosteiro concluídas. 

Constrói-se a nova igreja paroquial de S. João

A torre de Montarroio passa a ser a torre dos sinos do mosteiro.

1530 (26 de setembro): contrato de obras de carpintaria para o novo dormitório.

1530 (7 de outubro): contrato para a realização Ultima Ceia, entre o mosteiro e o escultor Hodart. O refeitório novo está concluído.

1531 (15 de Maio): Diogo de Castilho nomeado mestre de pedraria de Santa Cruz, substituindo Marcos Pires, falecido 10 anos antes.

1531: Conclusão do coro alto da igreja (abóbada de Diogo de Castilho, arco triunfal de João de Ruão).

Colocação das 3 esculturas de João de Ruão por cima do portal da igreja e sob a janela do coro.

Cadeiral de Olivier de Gand é instalado no coro alto e ajustado e ampliado por Francisco Lorete.

Transferem-se os túmulos dos reis para a capela-mor.

1532: arcos das capelas laterais da igreja (João de Ruão).

1533 (7 de setembro): contrato de Fr. Brás de Braga com os pedreiros Pero de Évora, Diogo Fernandes e Fernão Luís para a construção dos tanques da fonte da Manga (ideada por João de Ruão).

1534 (8 de Janeiro): Hodart recebe a totalidade do dinheiro por ter concluido a Ultima Ceia

1535: Vasco Fernandes (Grão Vasco) pinta o “Pentecostes” para a capela do Espírito Santo

1535 (26 de fevereiro): contrato de Frei Brás de Braga com João Afonso carpinteiro para obras nos estudos (geral de Santa Catarina e outros). 

1535: instituem-se os colégios de Santo Agostinho e de S. João Batista no interior do Mosteiro.

1537: D. João III transfere a Universidade para Coimbra. 

Faculdades de Teologia, Medicina e Artes funcionam em Santa Cruz.

Abertura da Rua da Sofia.

1538-39: loteamento da frente poente Rua da Sofia

1540: Descripçam e debuxo do Mosteyro de Santa Cruz de Coimbra, por D. Francisco de Mendanha.

1541: primeiros colégios instalam-se no lado nascente da Rua da Sofia

1544: todas as Faculdades da Universidade são transferidas para a Alta

1545-46: extinção do Priorado-Mor de Santa Cruz. As rendas revertem para a Universidade.

1546 (18 de maio): rendas do extinto Priorado-mor de Santa Cruz revertem para a Universidade.

1547: criação do Colégio das Artes

1548: início da construção do Colégio das Artes

1555: Colégio das Artes é cedido aos jesuítas

1565: Jesuítas transferem o Colégio das Artes para a Alta. Edifício é vendido à Inquisição.

1582-88: abriu-se a capela de S. Teotónio na parede do fundo da sala do capítulo (Tomé Velho).

Cª1589: descrição de Fr. Jerónimo Roman

1592: início da construção do Colégio Novo de Stº Agostinho, ou Colégio da Sapiência, na encosta da Alta sobre o Mosteiro de Santa Cruz.

1593-96: claustro do Colégio Novo (atribuído a Filipe Terzi)

1599-1602: substituem-se as frestas originais de iluminação do refeitório pelas janelas retangulares atuais (prior D. Acúrcio de Stº Agostinho)

1600: crúzios decidem substituir o retábulo da igreja monástica encomendando um novo ao escultor Gaspar Coelho (que falece em 1605)

1610-12: pinturas de Simão Rodrigues e Domingos Viera Serrão para o novo retábulo. 

1618-21: estende-se o dormitório principal para poente, até atingir o Largo de Sansão. 

1622-24: construção da nova sacristia, projeto de Baltasar Álvares

1627-30: arco triunfal da capela de S. Teotónio.

1630-33: colocação dos azulejos no refeitório do mosteiro

1633-56: construção do edifício da enfermaria

1638: fonte central do Claustro do Silêncio

1719-1724: novo órgão da igreja, executado pelo mestre organeiro espanhol Manuel Gomes Herrera

1731 (9 de novembro): contrato com Gaspar Ferreira – provavelmente para a construção da Capela da Relíquias (ou “Santuário”). Previa-se 3 anos de duração da obra (as obras não são descriminadas).

Meados do séc.XVIII: reconstrução da porta da igreja

1788: conclusão do novo retábulo, com inserção de uma tela do pintor Pascoal Parente.

1796: desenho de José Carlos Magne

1834: extinção das Ordens Religiosas

1839: instala-se a Roda dos Expostos no edifício da antiga enfermaria do mosteiro (atual Escola Secundária de Jaime Cortesão).

1858: regularizou-se a antiga rua de Coruche, atual Visconde da Luz. 

1865 (6 de julho): portaria cede o refeitório do mosteiro para sede da Associação dos Artistas.

1866: esculturas da Ultima Ceia já se encontravam mutiladas quando se inaugurou a estátua de D. Fernando II no refeitório do mosteiro.  

1876-79: construção do edifício da Câmara Municipal (Engº Alexandre da Conceição) sobre o espaço do antigo Claustro da Portaria (que foi demolido).

1885: Câmara Municipal adquire a antiga Quinta de Santa Cruz para abrir uma nova avenida

1907: Mosteiro de Santa Cruz classificado como “Monumento Nacional”

1917 (12 de Janeiro): incêndio nas dependências monásticas pertencentes à Escola Industrial Avelar Brotero, no lanço poente da fonte da Manga.

1922: inauguração do Café Santa Cruz: arqtº Jaime Inácio dos Santos

1926 (2 de Janeiro): incêndio destruiu por completo a estação dos Correios, a nascente da fonte da Manga.

1935 (3 de janeiro): derrocada da torre sineira.

1935-40: intervenção de reabilitação da fonte da Manga pela DGEMN e construção do restaurante.

1939: inauguração do novo edifício dos CTT de Coimbra, começado cinco anos antes.

1950-54: construção do edifício da Caixa Geral de Depósitos, projeto do Arqtº Veloso Reis Camelo.

1972: intervenção na capela dos Mártires de Marrocos.

1993-97: remodelação da Praça 8 de Maio pelo Arqtº Fernando Távora.

2000-2004: Construção do novo Mercado Municipal D. Pedro V.

2003: igreja elevada a Panteão Nacional.